Um movimento chamado Novembro Azul

Foi durante as comemorações do Dia Mundial do Combate ao Câncer de Próstata em 2003, na Austrália, que o movimento Novembro Azul (Movember) foi fundado. O objetivo do grupo era orientar, conscientizar e esclarecer as dúvidas do público masculino sobre o câncer de próstata (CaP). Mas eles foram além, pois depressão e saúde masculina também passaram a fazer parte dos assuntos abordados pelo movimento.

No Brasil o movimento ganhou força com Instituto Lado a Lado pela Vida e, apesar de ser algo recente no calendário nacional de campanhas de prevenção, a cada ano ele ganha força e instituições que apoiam a causa.

Nós entendemos a necessidade de estar junto a você em uma causa tão importante e essencial para o universo masculino. Por isso, conversamos com o médico e doutor em Urologia pela USP e Harvard Medical School, Wladimir Alfer Jr, sobre a causa, tratamentos e prevenção do CaP.

1) A causa do câncer de próstata é conhecida? Existem fatores que contribuem para o desenvolvimento da doença em alguns homens? Quais seriam esses fatores? Eles podem ser prevenidos?

A causa do Câncer de Próstata (CaP) ainda não é conhecida, diferente do tumor de bexiga que ocorre em fumantes. Porém fatores como obesidade e sedentarismo parecem aumentar a chance de um CaP. De acordo com as estatísticas, homens negros têm tumores mais agressivos. Existem vários estudos para prevenção do CaP, como por exemplo, o uso do licopeno (presente nos tomates), selênio e vitaminas, mas nenhum mostrou resultado positivo.

2) A cirurgia e a radioterapia são os tratamentos mais eficazes contra o Câncer de Próstata (Cap)? Mas métodos mais “alternativos”, como: alterações nutricionais ou hormonioterapia também podem ser usados? Qual a real eficácia do tratamento dessa forma? Em ambos a chance de retorno do câncer é a mesma?

Com os exames periódicos hoje em dia, temos com frequência o diagnóstico precoce do CaP, ainda com chance de tratamento curativo. O diagnóstico é dado pela biópsia, então temos a confirmação de um diagnóstico e a graduação deste tumor. Baseado nesta graduação temos  2 opções: no tumor localizado, vigilância ativa (não tratar) ou em tumores mais agressivos tratamento curativo, aí sim radioterapia ou cirurgia.

Boa parte dos pacientes tem inicialmente medo das complicações destes tratamentos, que ficaram muito conhecidas, como: incontinência urinária e impotência sexual.

Esta “fama” se deve aos primeiros tratamento realizados, cirurgias e radioterapia em torno de 1987/1988. Desde então, as técnicas evoluíram muito e as chances de complicações diminuíram bastante e são semelhantes após 3 ou 4 anos do tratamento.

A prostatectomia realizada com auxílio de robô e a radioterapia chamada IMRT conformal trouxeram um grande avanço para os pacientes portadores da doença localizada.

As alterações nutricionais não fazem diferença após o diagnóstico. Possivelmente uma dieta “saudável”, com menos proteína animal seja benéfica.

A hormonioterapia, na realidade é realizada com medicações onde se bloqueia a produção ou a ação da testosterona, com isso se consegue um controle da doença por algum tempo, uma vez que é um tumor que inicialmente depende da testosterona.

O bloqueio androgênico é a primeira opção de tratamento para tumores avançados, já não localizados. Às vezes é utilizado em conjunto com a radioterapia por um período de tempo em tumores localizados. Eventualmente o tumor se torna hormônio resistente e progride. Hoje existem várias drogas eficazes para este tratamento.

3) No Brasil, o câncer de próstata é o que mais mata, esse número elevado deve-se ao fato de que o homem brasileiro é tão resistente a prevenção da doença? O que falta para esse homem: informação, conscientização ou quebra do preconceito?  

Os dois tumores mais frequentes são pulmão (cigarro dependente) e próstata. Temos duas populações no Brasil, aqueles que podem realizar check-ups com qualidade e outra parte da população que não tem acesso a este serviço.  Mesmo hoje falta um pouco de conscientização e existe ainda alguns homens preconceituosos em relação ao exame, mas muito pouco hoje em dia na população com educação adequada.

4) A Sociedade Brasileira de Urologia elenca alguns fatores de risco para o desenvolvimento da doença, como: idade, histórico familiar, alimentação, sedentarismo e obesidade. É possível um homem saudável e sem histórico familiar desenvolver o câncer?

Sim, é possível ter o CaP. Mas se você se habitua a uma vida ativa com alimentação saudável pode melhorar suas chances não só em relação ao CaP, mas à sua saúde como um todo.

Não é raro vermos no consultório pacientes obesos, fumantes, diabéticos e estressados se queixando por exemplo de disfunção sexual. Nós fazemos nossa parte mas é fundamental o paciente  se cuidar. O histórico familiar é muito importante, quanto mais parentes diretos com a doença, maiores as chances de presença do CaP. O que não significa que terá a doença, mas a prevenção em pacientes com essas características é mais rigorosa.

5) Qual deve ser a periodicidade para a realização dos exames preventivos? A Sociedade Brasileira de Urologia orienta que a prevenção tenha início aos 50 anos. Porém, homens mais jovens devem se preocupar ou a chance de desenvolvimento antes dos 50 é nula?

A prevenção deve começar entre 40 e 45 anos se o paciente tiver parentes com o CaP. Entre 45 e 50 anos se não houver parentes com CaP.

A prevenção é feita com o PSA (Antígeno Prostático Específico – que pode ser medido através do exame de sangue) e o exame físico da próstata. Um paciente que realizou o exame de PSA entre 40 e 45 anos e o mesmo apresentou um índice muito baixo no resultado, tem pouca probabilidade de ter um diagnóstico nos próximos anos.

Existe muita discussão hoje em dia, derivada de estudos realizados nos Estados Unidos sobre a validade ou não de se realizar rastreamento para  CaP na população em geral.

Mas aqui temos dois conceitos, política pública que envolve custos e benefícios deste rastreamento e aquele paciente que vai em seu consultório e quer ter a chance de ter um diagnóstico precoce do CaP.

Hoje em dia, se existe uma suspeita pelo exame físico ou pela dosagem do PSA, realizamos uma ressonância magnética da próstata que auxilia na indicação ou não da biópsia. A fusão de imagens (ressonância /ultra-som) ajuda a dirigir a biópsia, quando indicada,  para a área suspeita.

6) Quais os sintomas mais comuns da doença? Qual dica você daria como prevenção para os homens.

Não existem sintomas para o CaP, sintomas decorrem das metástases em doença avançada. A “saúde da próstata” envolve dois aspectos: a qualidade da micção (que tende piorar com a idade) e o rastreamento do câncer. A dificuldade para urinar é evidente em alguns pacientes, mas não está relacionada com o diagnóstico do câncer.

Para o especialista em Urologia, algumas recomendações são essenciais para o cuidado e prevenção da doença como:

– checar com seu Urologista qual a relação de exames periódicos para prevenção.

– agendar uma consulta para realizar um check-up clínico básico, para verificar se os exames preventivos estão em dia, como por exemplo: colonoscopia, que deve ser realizada a cada 5 anos após 50 anos.

Nosso conselho é que você procure um médico de sua confiança para realizar todo acompanhamento e exames de rotina. Afinal, a prevenção é sempre o melhor caminho para manter a saúde em dia. #playricardoalmeida


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